quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O elevado número de suicídios na policia

Nos últimos anos, o numero de suicídios na policia tem aumentado consideravelmente. Esta situação muito preocupante merece uma grande reflexão e uma mudança de atitude por parte das altas patentes das forças de segurança.
Só no ano de 2008, suicidaram-se 14 policias. 
Os excertos que se seguem referem-se aos depoimentos de três policias que falam da sua profissão, do seu dia-a-dia e do tratamento que a instituição que servem com todo o empenho e dedicação tem para com eles.
Pelos depoimentos, vamos perceber quais os motivos que levam os agentes de autoridade a por termo à vida. 




"Os polícias não sabem como sair deste buraco em que se encontram, com tantos problemas financeiros por terem salários muito baixos, trabalho em excesso, falta de tempo para descansar nem acompanhar o crescimento dos filhos."


 "E não têm apoio da instituição PSP nem da família, que deixa de os querer por estarem sempre ausentes. Acabam por ficar sozinhos."


"Infelizmente, ainda vai haver mais situações destas, porque pensam que o suicídio resolve todos os problemas. Acaba-se tudo..."


"Este trabalho exige sanidade mental a 100%." 


"Muita gente depende da minha capacidade de resposta."


"Sinto-me muito fragilizada como pessoa e profissional. Mas foi a própria instituição que me levou a isto, porque não dá incentivos. Nem que fosse só por palavras para reconhecer o trabalho que se fez e dar apoio moral às pessoas"

Com os olhos rasos de lágrimas, lembrou ter trabalhado dois anos com crianças vítimas de violação: "Isso afecta psicologicamente uma pessoa. E a PSP não vê isso. Só demonstra falta de respeito. É isso que me revolta. Retirarem o valor de uma pessoa. Não consigo aceitar isto."

"Já dei muito à polícia e a polícia a mim deu-me zero. Foi aqui que aprendi a ser mulher. Dei a minha vida toda à PSP. E pela PSP deixei de dar atenção à família e aos filhos. Tudo para defender a bandeira nacional e a minha farda", diz, com uma tristeza no olhar. Desiludida, frisa que "o sonho comanda a vida. E quando uma pessoa deixa de ter sonhos, a vida deixa de fazer sentido".


"Eu perdi todos os amigos que tinha antes de entrar para a PSP, porque deixou de haver tempo para manter essas amizades. Há um corte com o mundo civil e em toda a vivência. Aos polícias só restam os polícias. Não há horas para comer, dormir nem para nada. Faço um turno, mas pode-se prolongar por mais de sete horas se houver uma detenção ou outra ocorrência".

Há muitos agentes que não vivem, só sobrevivem, porque não têm tempo livre nem dinheiro. Só ganham 700 ou 800 euros por mês".


Há agentes com meia dúzia de meses na PSP, que já estão tão desanimados com isto, que só desejam arranjar outro emprego e largar a PSP. Na minha esquadra, já ouvi mais de 40 agentes novos a dizerem isso".


"Entrei em baixa psiquiátrica pelo grande desgaste em que me encontrava. Entretanto, foi-me detectada doença bipolar e a corporação não me ajuda em nada. Por isso, muitos como eu tentam pôr termo à vida", refere João, que tem uma certeza: "Se pudesse voltar atrás, não teria ingressado na PSP."


Em 2007, a junta médica superior da PSP considerou-o "apto para retomar o serviço", enquanto a sua psiquiatra particular dizia que não estava em condições: "Fiquei muito transtornado com aquilo tudo. Estava em casa e não sei o que me passou pela cabeça. Ingeri grandes quantidades de medicamentos.
Senti-me muito mal e, quando me dirigi à esquadra para pedir auxílio, peguei numa coisa qualquer e parti as vidraças das instalações."


"Detiveram-me por danos voluntários. Estive oito horas detido na esquadra e algemado como se de um bandido se tratasse. Fui levado a tribunal e constituído arguido por ter feito um prejuízo de 190 euros"

"Em vez de me ajudarem, porque estava mal psicologicamente, fui detido e tratado como um animal irracional. Se o mesmo tivesse sucedido com um cidadão comum, ele teria sido assistido e conduzido aos serviços médicos."


"Não recorro aos serviços de psicologia da PSP, porque não confio neles. É um sistema que tem de ser remodelado para trabalhar para e com os polícias e não apenas para a PSP"

"Sinto que a minha vida desapareceu. Perdi a minha família, os meus amigos. Tive de vender a casa para pagar aos advogados", queixa-se João.


"E a principal razão (para os suicídios) é a falta de descanso. Os polícias ganham mal e, para terem mais algum dinheiro, têm de fazer serviços gratificados, ficando sem tempo para descansar",


"No outro dia, elementos do meu grupo entraram de serviço às 00.30. Às 04.30 detiveram três indivíduos por assalto a vários estabelecimentos comerciais e depois estiveram a fazer o expediente até às 21.30, porque aquilo era complicado e envolvia uma série de casos. Depois voltaram a pegar ao serviço à meia-noite até às 06.30. Às 10.00 tiveram de ir para tribunal com os suspeitos e aquilo prolongou-se até às 19.00. Portanto, estiveram praticamente dois dias seguidos a trabalhar sem descanso"




Artigo do DIÁRIO DE NOTÍCIAS | 12.11.2008



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